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casa de pedra: Márcia H. M. Dall Ago. Clube do Fotógrafo Caxias do Sul.

150 anos de Imigração Italiana: o legado arquitetônico na Serra Gaúcha

Há 150 anos, em maio de 1875, um grupo de 86 imigrantes italianos desembarcou na região que hoje conhecemos como Nova Milano, no atual município de Farroupilha, Rio Grande do Sul. Esses pioneiros, vindos principalmente da província de Milão, no norte da Itália, estavam em busca de uma vida melhor, fugindo de crises econômicas, fome e instabilidade política em sua terra natal. 

Mal sabiam eles que suas influências moldariam profundamente a cultura, a economia e, especialmente, a arquitetura da Serra Gaúcha.

As primeiras construções: simplicidade que funciona

Ao chegarem, os imigrantes se depararam com uma paisagem dominada por florestas de araucárias e um terreno acidentado. Sem infraestrutura ou muitos recursos, precisaram usar de criatividade e resiliência para construir suas moradias. 

As primeiras casas eram simples, feitas de madeira ou pedra, materiais abundantes na região. As técnicas de encaixe eram as mais utilizadas, uma vez que dispensavam pregos e garantiam uma estrutura ao mesmo tempo sólida e duradoura. Essas construções também contavam com porões para armazenamento de alimentos e sótãos, que serviam como dormitórios adicionais ou depósitos.

Obviamente, a funcionalidade era a prioridade. Mas, mesmo na simplicidade, havia aquele toque de cuidado e dedicação em cada detalhe.

A evolução das construções na Serra Gaúcha

Com o passar do tempo e a crescente prosperidade, a arquitetura da Serra evoluiu. As casas passaram de estruturas modestas para construções mais elaboradas, refletindo o desejo dos imigrantes de recriar um pedaço da Itália em solo brasileiro. 

Com o tempo surgiram vinícolas, igrejas e espaços públicos que combinavam estilos arquitetônicos italianos com influências locais. As vinícolas incorporaram técnicas tradicionais de vinificação, adaptando-se ao clima e aos materiais disponíveis. As igrejas tornaram-se centros comunitários, muitas delas adornadas com murais e vitrais que refletiam a fé e a jornada dos imigrantes. 

Pouco a pouco, a arquitetura passou a incorporar elementos decorativos mais elaborados, como varandas esculpidas, janelas arqueadas e telhados inclinados, adequando-se às condições climáticas da região.

O legado arquitetônico italiano na Serra Gaúcha 

Vamos juntos explorar alguns dos exemplos mais marcantes do legado arquitetônico italiano na Serra Gaúcha — construções que vão além da estrutura física, carregando histórias, memórias e a herança deixada pelos imigrantes italianos, preservada até os dias de hoje.

Igreja de São Pelegrino: um tesouro em Caxias do Sul

No coração de Caxias do Sul, a Igreja de São Pelegrino se destaca por sua arquitetura imponente, e também pelo rico acervo artístico que abriga. 

Inaugurada em agosto de 1953, a igreja é um verdadeiro museu de arte sacra, com um interior adornado com murais impressionantes do artista italiano Aldo Locatelli, incluindo uma representação monumental da “Santa Ceia” e os quadros da Via Sacra, uma série de painéis que retratam cenas bíblicas com uma profundidade cativante. 

O teto é uma obra à parte, com afrescos que ilustram a “Criação do Cosmos”, a “Criação da Mulher”, a “Expulsão do Paraíso” e o “Juízo Final”. A igreja também possui uma réplica da famosa escultura “Pietà” de Michelangelo, presenteada pelo Papa Paulo VI em 1975.

Visitar a Igreja de São Pelegrino é uma experiência que transcende o espiritual, oferecendo uma imersão profunda na arte e na história da região.

Caminhos de Pedra: uma visita ao passado 

Em Bento Gonçalves, o roteiro turístico Caminhos de Pedra, idealizado pelo engenheiro Tarcísio Vasco Michelon e pelo arquiteto Júlio Posenato, oferece uma jornada única pelo tempo. 

Ao passear pela estrada de 12 quilômetros e pelos mais de 25 pontos de visitação, você pode conferir um acervo arquitetônico que preserva o estilo das primeiras construções dos grandes nomes italianos. 

Ao longo do caminho, casas de pedra e madeira, algumas datando do final do século XIX, foram restauradas para refletir sua aparência original. Cada edificação conta uma parte da história dos colonos, desde as técnicas de construção até os desafios enfrentados na nova terra. 

Além das residências, o percurso inclui moinhos, cantinas, teares e outras estruturas que ilustram o cotidiano dos imigrantes. Entre os destaques temos a Casa da Ovelha, onde é possível produtos variados desenvolvidos com leite de ovelha, de cosméticos à iogurtes, e o Pietra Trattoria, um casarão construído em 1905 que combina elementos clássicos de casa de vó italiana com a modernidade do presente. 

Uma mistura do velho e do novo que, junto da paisagem, faz parecer que estamos de verdade na Itália.

Vinícolas de Bento Gonçalves: tradição vinda da Itália

A influência italiana na Serra Gaúcha é talvez mais evidente nas vinícolas de Bento Gonçalves. A região é cheia de vinícolas que combinam técnicas tradicionais de vinificação com arquitetura, e que remete às origens italianas. 

Muitas dessas vinícolas, como a Casa Valduga e a Salton, estão alojadas em edificações históricas de pedra, refletindo as construções típicas dos primeiros imigrantes. Ao visitá-las, você não só degusta vinhos da melhor qualidade, mas é transportado para uma época em que a produção da bebida era uma extensão natural da vida familiar.

A arquitetura dessas construções, com suas adegas subterrâneas e estruturas de pedra, oferece uma visão autêntica da herança vitivinícola que os imigrantes trouxeram consigo há 150 anos.

Museu Casa de Pedra: um mergulho na vida dos imigrantes

Em Caxias do Sul, o Museu Ambiência Casa de Pedra também oferece uma janela para o passado. Instalado em uma casa de pedra construída por imigrantes italianos no final do século XIX, o museu preserva móveis, utensílios e outros artefatos que ilustram o cotidiano dos colonos. 

A própria edificação é um exemplo das técnicas de construção utilizadas pelos imigrantes, com paredes de pedra e estrutura de madeira. Um prato cheio para quem ama arquitetura antiga. Construída por Giuseppe Lucchese, junto a seus filhos Giácomo e Francesco, a casa foi vendida para Jacob Brunetta ainda em 1913, e posteriormente para David Tomazzoni, em 1946.

Ao explorar o museu, os visitantes podem entender um pouco mais sobre a engenhosidade e a dedicação dos primeiros italianos que se estabeleceram na região, bem como os desafios que eles enfrentaram ao construir uma nova vida longe de casa, em terras brasileiras.

Cada um desses locais oferece uma perspectiva única sobre o legado arquitetônico e cultural deixado pelos imigrantes italianos na Serra Gaúcha. Ao visitá-los, você não apenas aprecia a beleza dessas construções, mas também se conecta com as histórias e tradições que moldaram a identidade da região.

A importância da preservação: mantendo a história viva

Preservar o patrimônio arquitetônico da nossa região é algo essencial para manter viva a história e a identidade cultural da Serra Gaúcha. Esforços locais de restauro e conservação têm sido implementados para garantir que essas edificações resistam ao tempo e continuem a contar a história daqueles que chegaram aqui antes de nós. 

Além de seu valor histórico, esses espaços atraem turistas de todo o mundo, contribuindo para a economia local e reforçando o orgulho da comunidade em sua herança.

A arquitetura da Serra Gaúcha é um testemunho vivo da resiliência, criatividade e dedicação dos imigrantes italianos. Suas técnicas e estilos deixaram uma marca inegável, moldando não apenas o que vemos ao nosso redor, mas a nossa identidade como povo. 

Convidamos você a explorar essas construções, mergulhar na rica história que elas nos contam e celebrar este marco significativo que são os 150 anos da imigração italiana.

Quer explorar mais a riqueza arquitetônica da Serra Gaúcha? Conheça a Sala de Arquitetos e faça parte dessa jornada pela valorização da arquitetura.